domingo, 22 de dezembro de 2013

OS FRUTOS DO DESCONHECIMENTO

Ah! Essa eu não podia deixar passar! Eu tava aqui, ao computador, tentando criar alguma coisa ou pensar num tema pra abordar, quando ironicamente um mastodonte, desses que dão dez berros e uma porrada nos ombros dos outros a cada dez palavras que falam, veio ironicamente em meu socorro, quando lá da rua soltou um grito de "porra, esse time é demais" mais parecido com o grunhido de um pobre porco na hora do abate (pobre porque amo e respeito todos os animais, e às vezes divago sobre como seria bom se eles não fossem abatidos). Este tipo de espetáculo é muito corriqueiro no bairro onde moro , assim como em muitos outros bairros por este Rio afora.
Se fossem só os berros, até que ainda iria. Mas o grande problema é que esses caras ainda soltam fogos, ateiam fogo no asfalto e cometem outras barbaridades: são verdadeiros terroristas sem causa. Odeio gente sem educação e torcedores extremados: eles são hostis, insolentes e perigosos. Já disse mais de uma vez que são os sectários de maior periculosidade, sobretudo se você levar em conta que no Brasil, ao menos com base nas notícias que nos chegam, não se mata nos últimos anos em nome da política ou da religião, duas das três searas onde se abrigam os mais inflamados radicais: a terceira é justamente o futebol (e de maior número de exacerbados).
Mas a questão é que não são exatamente eles o alvo deste meu comentário. O meu tema são aqueles que se valem deste tipo de situação. Nos anos setenta dizia-se muito que o futebol era um bom instrumento de desvio de atenção dos problemas nacionais para uma direção indevida e equivocada: ou seja, o cara só pensava em futebol e nem sequer tinha ideia dos problemas que verdadeiramente afetavam a sua vida e o seu dia-a-dia. Nos anos oitenta começou-se a negar que o interesse demasiado por um ou mais esportes fosse alienante. Nos anos noventa ficou "provado" que uma coisa não afetava a outra. Na minha opinião pessoal, foi um aforismo que alguém, meio bêbado e meio querendo contestar por contestar, jogou no ar e pegou, colou, cristalizou-se perfeitamente.
Podem me chamar de retrógrado, de arcaico, de reacionário, de cego, mas eu de-fi-ni-ti-va-men-te não a-cre-di-to. O interesse desmedido por futebol aliena, sim! Esses torcedores de que falei, e que correspondem a um percentual significativo, não querem saber de nada, nada mesmo! Só de seus clubes, e fim! Comentam futebol de domingo a domingo, almoçam, jantam e respiram futebol. Torcer por um time é saudável, eu próprio, como tantas outras pessoas, torço por um time. Mas não vivo a me desesperar ou a soltar fogos por ele, não gosto quando perde, mas não fico a me deprimir e a querer explodir o mundo por força da revolta e do desgosto. O caso deles (os fanáticos) é patológico, é uma coisa inconcebível. E o mais grave de tudo é que eles votam, e o fazem, em geral, sem nenhum conhecimento de causa, porque é impossível que alguém dedicado ao futebol vinte e quatro horas por dia possa estar inteirado sobre outro assunto. E aí quem gosta, se regala, deita e rola são aqueles caras que usam colarinho duro, gravata italiana e que decidem se a gente neste ou naquele dia vai ter alguma coisa pra comer ou se virar roendo pedra. Aqueles, sabe? Pois é!
É mentira minha? É? Se você acha, me responda uma coisa: quantos aumentos de preços e medidas antipáticas são tomadas pelos governos em períodos de copa do mundo ou de final de campeonato? Se você não se lembra, a indústria químico-famacêutica produz uma série de remédios pra memória. Procure seu médico.
Estaríamos bem se só os torcedores extremosos tivessem a atenção desviada. Mas a história é muito mais séria. Tem gente que compra um jornal e só lê a página criminal. O crime é realmente, na atualidade, algo muito incidente e um problema da maior relevância, mas uma fonte noticiosa digna do nome não vive exclusivamente da criminalidade. Ou seja, apesar do seu vício de manipulação de fatos, muitas das instituições de imprensa de maior peso ainda dão uma boa gama de informações sobre vários assuntos . O grande problema é que as entidades menos sérias (ou os setores menos sérios das entidades mais sérias) aplicam nas veias do público verdadeiras overdoses de informações irrelevantes e desnecessárias. É o que explica o grande sucesso dos chamados reality shows e outros programecos do mesmo quilate.
Se houvesse uma postura séria por parte dos legisladores e governantes, este tipo de coisa teria uma certa limitação, um certo controle e policiamento; mas ninguém está interessado em que o povo esteja bem-informado das coisas de cunho político e social. Logo eles, os grandes beneficiários deste contexo, porque disciplinariam tais abusos? Quanto menos se saiba, melhor para eles. Até porque, se ao povo fosse dado saber a verdadeira face da realidade, muitos governantes que se transformaram em verdadeiros vultos históricos não teriam, pelos seus desmandos, completado o segundo ano de seus mandatos.
Uma pena. Todo esse processo é, queiramos ou não reconhecer, um grande fator atravancador de progresso e desenvolvimento. Mas o que se há de fazer? O Brasil vai lendo fofoca sobre artistas, assistindo a programas baratos de auditório e tocando a vida por aí afora, crente crente que é feliz.

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