sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

RECANTO SOMBRIO

Eu bem sei que estou atado ao meu recanto

Tão sombrio, umedecido, tão deserto,
E que Marina não virá me estender a mão de encanto
E de veludo, para conduzir-me ao paraíso
Que o sol acende, que o verde adorna
E que os riachos
Enchem de música.


O meu canto seguirá, teimoso e rouco,
Teimoso e mudo,
Sopro inaudível
Que tão somente
Se perderá
No vago nada.
O meu canto será sempre um sussurro vão
Que se desfaz no ar, sem que ninguém
Sequer um dia
Se aperceba
De que existiu.

O amanhã será exatamente igual ao hoje
E não verei a água converter-se em vinho,
E os meus olhos, cansados, baços,
Não mostrarão nenhuma ânsia;
Só se lerá
Nestes meus olhos
Alguma pressa
De a natureza
Me suprimir.

1997

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