domingo, 30 de julho de 2017

UTOPIA

Se uma doce emoção repontar
na gente rude das ruas cinzentas...?
Se o ódio silenciar tão profundo
de parecer estar morto e sepulto...?
Se eu me apaixonar pela prostituta
e viver uma inquietação mais sem fim..?
Se as pessoas quebrarem o asfalto
e plantarem jardins nas estradas...?
Se eu vir a ternura brotando
nos olhos tão frios de Helena...?
Se alguma voz bela cantar 
e encantar toda a praça e a cidade...?
Se tudo for só poesia,
sem juízo, sem bom-senso ou limite...?
Se esta utopia crescer de tal modo, 
que arrebente a impalatável verdade...?
Se minha quimera vencer o real,
parecerá vivermos pura felicidade.


SE EU AMAR ESSA MULHER?

E se eu amar essa mulher
de olhos tão despidos dos afetos?
E se eu amar essa mulher
loucamente de segui-la sorrateiro pelas ruas,
verificar furtivamente seus papéis, seus aparelhos,
suas vestes íntimas no cesto e no varal?

E se eu amar essa mulher,
obsessivo de falar seu nome o tempo todo,
nas noites frias de tristeza e de distância?
E se eu amá-la de um modo assim tão tresloucado
de perdoar-lhe as traições e os seus desprezos?
Se eu amá-la de um jeito tão servil e tão demente
de sentir-me um ser chão diante dela?
Se eu amar demais essa mulher, 
de querer morrer caso ela suma dos meus olhos,
de querer matá-la caso queira me deixar,
ou ainda me deitar pelas sarjetas se perdê-la para sempre?

Vou deixar que essa mulher siga em paz o seu caminho:
não, não posso, não, jamais amar essa mulher!


segunda-feira, 24 de julho de 2017

Como ter alguma esperanças num país que se preocupa mais com o desempenho dos seus jogadores de futebol em campo do que com os atos dos seus políticos... onde uma passeata LGBT reúne pelo menos cinquenta vezes mais pessoas do que um protesto contra os desmandos e a corrrupção da sua degenerada classe política... onde  ministro de alta corte, ao invés de portar-se como magistrado, defende com unhas e dentes parlamentares e gestores sujos  e por isto mesmo espúrios... onde as Organizações Globo - que são a mais tendenciosa rede de comunicação e a maior deturpadora da história contemporânea do Brasil - é que mais formam opinião?  Para mim chega.  Desisti de tudo, joguei a toalha, entreguei os pontos: não quero mais lutar por nada. Vai ser tudo como Temer, a Febraban, a Fiesp, a Firjan, a Globo e etc. quiserem.  Porque aqui não há lei, justiça ou ética:  manda e faz o que bem quer quem tem a arma ou a caneta na mão.  Só lamento não ter idade e especialização para tentar uma vida e uma história diferente em outro país.  Da mesma forma como me desola profundamente ter dado filhos e uma neta a esta terra.   Aqueles que deram as costas para os fatos extremamente graves que dilapidaram e ainda dilapidam o Brasil, também sentirão, tanto quanto eu, na carne os efeitos de termos um Estado  antidemocrático e estarmos caminhando a passos largos para nos tornarmos a Somália da América Latina.  Não há nenhuma eperança, nada de bom ficou por aqui. Acabou tudo... Acabou tudo.

domingo, 2 de julho de 2017



Não creio em nada. Ou em quase nada.  Não creio em Deus. Nos homens, muito menos.  Não alimento ilusões e esperanças quanto às coisas à volta e ao mundo.  Não vivo destilando alegria pelos quatro cantos do planeta.  Sou um misantropo e não cultuo deuses nem homens.   Mas me embeveço quando de manhã olho pra fora da janela do meu quarto e vejo a árvore florada e repleta de vida, uma pequena mostra do quanto a Natureza é sublime, que contrasta com a rua pavimentada e quase totalmente desprovida de verde.  Beija-flores, besouros, percevejos.  Às vezes mariposas entram de madrugada, e tenho de acender alguma luz para que elas se aquietem.  Uma vez entraram dois beija-flores por volta das três da manhã, e precisei apagar as luzes para deixarem de se bater e não se ferirem.  Na primeira claridade abri as bandeiras porque não souberam sair pela janela aberta.  A Natureza, os bichos: este é meu culto, meu alumbramento, minha crença absoluta.  Eu creio na vida, nos animais, nos besouros, nas árvores e plantas e me me irmano com eles, e a simples vista de tais criaturas me traz uma paz de nirvana, me faz contente com a própria existência, me faz encantado, enlevado e feliz.